11/01/2012

Escrever de toiros em Portugal


"Quem escreve de toiros num meio tão pouco entendido como o nosso, não tem o direito de esconder o seu pensamento atrás de palavras menos claras. Dizer a verdade, aquilo que em nossa perfeita consciência nos pareça ser a verdade, é o primeiro dever de todos aqueles que se entregam ao ingrato labor de escrever para o público, qualquer que ele seja e muito especialmente quando se trate de um público, como o nosso, que ainda está mais ou menos por educar e orientar.
Mais difícil que ser filósofo, menos fácil que ser ministro, mais custoso ainda que ser toureiro, é ser crítico de toiros em Portugal. O filósofo, quando menos o percebem, mais o admiram. O ministro pode fazer tolices, comprometer o bom nome da nação, sacrificar ao interesses das clientelas o interesse nacional - e nada disto impede que a pátria, reconhecida, lhe levante uma estátua. O toureiro, se é bem, não tem mais que um inimigo, que é o toiro - e, mesmo quando não pode com esse, diz ao público que não presta e o público não lhe nega as suas palmas. o crítico, pelo contrário, todos o compreendem e ninguém o admira; e tem inimigos nos toiros, nos toureiros, nos públicos, nos filósofos e até nos ministros. Desgraçado, tem que poder com todos"
D. Bernardo da Costa de Sousa de Macedo (Mesquitella)

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